Como posso perdoá-lo depois do que ele me fez? Como posso perdoá-la depois de todo mal que ela me causou?
Essas são expressões comuns no dia a dia do consultório. Nos libertarmos de magoas, rancores, ressentimentos, culpa é um dos maiores desafios para o perdão no processo terapêutico.
Pontos importantes sobre o perdão no processo terapêutico
De moro geral quando somos prejudicados ou prejudicamos alguém, queremos equilibrar o dano pela punição. Muitas vezes, por querer punir o outro, permanecemos no sofrimento para demonstrarmos o quanto essa pessoa nos feriu e prejudicou nossas vidas. O mesmo acontece quando prejudicamos alguém, nos mantemos no sofrimento porque não nos sentimos “autorizados” a sermos felizes se causamos tanto mal a alguém.
Outro ponto importante do perdão é que, em muitos casos, acreditamos que perdoar é voltar a convivência, é concordar com o que a pessoa fez, é voltar ao relacionamento como era no início como se nada fosse…
Na hipnoterapia, perdoar é muito diferente disto. Aqui, estamos nos referindo a aceitar que o que aconteceu foi horrível e que ninguém deveria passar pelo que você passou e que, apesar de qualquer negação, o fato aconteceu e que não importa o que você faça: o passado não irá se alterar!
Então, o que lhe resta se desvincular do ocorrido e da pessoa e caminhar para uma vida livre.
Como colocar isso em prática?
Para colocar o perdão no processo terapêutico em prática, o primeiro passo é compreender como esse perdão acontece.
Para a tomada de consciência, eu te convido a ler a história a seguir e, juntos, ampliarmos o entendimento de como se dá o perdão no processo terapêutico…
Refletindo com um exemplo sobre perdão
Imagine que você trabalhou o ano inteiro para fazer a viagem dos seus sonhos. Imagine que, para essa viagem, você economizou, reservou cada centavo que podia, desistiu de passear, de comprar coisas que queria, deixou de ir a jantares e eventos com seus amigos e entes queridos. Você realmente se empenhou para juntar o dinheiro e, assim, fazer todas as suas vontades na viagem dos sonhos e, para isso, você reservou 10 mil reais (o valor é hipotético e somente para facilitar a explicação).
Faltando 6 meses para o grande dia, as passagens já estão compradas, as hospedagens, os passeios e os restaurantes reservados e, para deixar a viagem ainda mais perfeita, você irá com o amor da sua vida para uma reconciliação… Tudo está conforme o planejado, você está motivado, feliz e finalmente irá embarcar para o destino dos seus sonhos.
Para compartilhar essa felicidade, você tem uma grande amiga que confia e está dividindo cada etapa da viagem, cada progresso, cada conquista… você pensa: está tudo tão maravilhoso, o que poderia dar errado?
Então sua grande amiga, chega com uma situação delicada, ela sabe que você tem os R$10mil reservados e que você usará somente daqui 6 meses e por isso, ela te pede esse valor emprestado.
Na hora você racionaliza, pensa “eu confio nela, ela certamente vai me pagar, ainda faltam 6 meses para a viagem, ela está precisando agora, vai dar tudo certo” e empresta o dinheiro.
No momento da transferência, a intuição diz que não, mas você ignora e segue adiante com o empréstimo. Você sabe que se ela não pagar, não terá como viajar e isso te preocupa. Para piorar a situação, sabendo que seu amor não irá concordar, você não fala nada para evitar uma briga desnecessária.
Sua amiga fica imensamente agradecida, e diz que em 3 meses a situação se resolverá e ela devolverá o dinheiro com juros. Você confia, sente aquele friozinho na barriga sinalizando que algo não está legal, mas você ignora e continua acreditando que tudo está perfeito e dará certo.
Faltando 3 meses para a viagem, data que sua amiga se comprometeu em devolver o dinheiro, ela chega para você e diz que os planos não saíram como previsto e que ela não tem o dinheiro, mas te pagará no próximo mês… Você fica desconfortável, ainda não diz nada para o seu amor, porque afinal mês que vem ainda dará tempo e vocês não precisam se desentender por isso.
No mês seguinte, faltando 2 meses para a viagem, na data combinada sua amiga chega para você e diz que as coisas não saíram como previsto, que ela não tem o dinheiro, mas que está dando um jeito e no próximo mês, uma semana antes de você viajar tudo estará resolvido e o dinheiro estará na sua conta…
Nesse momento, você começa a se preocupar, você não tem de onde tirar o dinheiro, não tem como emprestar e, se sua amiga não pagar, você não poderá viajar e o relacionamento que já está frágil irá por água abaixo, principalmente porque você omitiu a informação esse tempo todo. Mesmo assim, você decide não falar nada e confiar que sua amiga irá pagar, afinal nesse instante não resta mais nada para fazer a não ser esperar. Faltando uma semana para a viagem, na data prevista do pagamento sua amiga chega pra você e diz que sente muito, que os planos dela não aconteceram como previsto e que ela perdeu todo o dinheiro e não tem como te pagar e, por conta disso, você não tem como embarcar e terá que dizer para o amor da sua vida que vocês não viajarão, que as passagens e hospedagens não são reembolsáveis e os pagamentos que ambos fizeram foram perdidos…
Ao receber a notícia, seu amor fica bravo, decepcionado, inflexível, principalmente pela falta de parceria e quebra de confiança e por isto, o relacionamento se desfaz.
Nesse momento todos os sentimentos fervilham em você… Raiva, culpa, arrependimento, julgamento, mágoa, ressentimento, você culpa sua amiga desleal, culpa o amor de sua vida pela incompreensão, você se culpa, se julga, você culpa o mundo e até o último instante você ainda nutre a esperança de que tudo se resolverá, mas não, o dia chega, você não embarca e o sonho se torna um pesadelo embalado com mágoa, culpa, frustação e ressentimento.
Passado o choque e a negação do ocorrido, você retoma a vida e começa a juntar dinheiro novamente para um novo destino, a final o destino anterior não deu sorte, você agora já sabe como fazer e fará melhor ainda.
O relacionamento a essa altura não tem mais como ser reconstruído e, apesar dos movimentos para levar a vida adiante, algo fica em você, uma expectativa que vai te consumindo e te impedindo de progredir de virar a página e mês a mês você espera que sua “amiga” devolva o dinheiro emprestado.
Mês a mês, você faz planos como: se ela me pagasse, eu poderia trocar de carro; se ela me pagasse, eu poderia reformar a casa; se ela me pagasse, eu faria aquele curso que me ajudaria a progredir no trabalho.
Assim, mês a mês o círculo de expectativas e frustrações se repetem, aumentando consecutivamente o ressentimento, a mágoa… Passaram-se 6 meses, 9 meses, 1 ano e agora, prestes a embarcar para a viagem dos sonhos em um novo destino, você se cansa de esperar pelo pagamento e decide deixar para lá, deixar de contar com o recebimento desse valor, esquecer que um dia emprestou esse dinheiro, esquece que um dia conheceu e confiou nessa pessoa, embarca no voo e segue a vida.
Reflexões sobre o perdão no processo terapêutico
Depois de tudo isso, eu te pergunto: parar de contar com o dinheiro fez você voltar no tempo e te impediu de emprestar o dinheiro? Certamente não!
Parar de contar com o dinheiro significa que sua “amiga” te pagou? Com certeza não!
Parar de contar com o dinheiro significa que se essa “amiga” te pedir dinheiro emprestado, você emprestará novamente? Espero que as respostas seja não!
Parar de contar com o dinheiro fará vocês se tornarem melhores amigos novamente? Muito provavelmente, não!
Também não significa que você deva deixar de correr atrás do valor que lhe é devido e de recebê-lo algum dia.
O que significa então? Significa apenas que você parou de contar que seria diferente, aceitou as coisas como foram do jeito que foram, rompeu o círculo da expectativa e frustação e, a partir da realidade, sente-se livre para lançar voo e buscar seus objetivos por você.
O perdão no processo terapêutico é exatamente isto, é aceitar que o que aconteceu foi ruim, péssimo, e buscar novas perspectivas para agir a partir do que aconteceu e, apesar do que houve, buscar o melhor para você. E certamente não é voltar a ter a mesma relação que tinha com a pessoa, não é conviver com ela e tão pouco concordar com o que houve.
Talvez, ao ler este artigo perdoar faça sentido para você, e você queira fazer esse movimento, mas sozinho ainda seja muito difícil! Ao buscar o perdão no processo terapêutico, você encontrará um lugar seguro e um olhar neutro que te auxiliará a desenvolver os recursos emocionais de que precisa para libertar-se e seguir em frente.
Eu sinceramente espero que esse post tenha te tocado, para que você dê os passos rumo a libertação, ao amor e ao bem-estar e ao perdão no processo terapêutico. Saiba que perdoar é um ato de muita coragem e com o apoio adequado é possível.
De que forma posso te ajudar a exercitar o perdão?
Acompanhe meus conteúdos pelo Instagram e agende sua avaliação se essa reflexão fez sentido para você!